Se perder um amor... não se perca!

Se o achar... segure-o!

Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala .

O mais... é nada.

Fernando Pessoa.

Eu estava no meu leito, não havia nenhuma visita, o telefone não havia tocado ainda...

Eram minhas ultimas horas naquele lugar, eu sabia que eram...

Meus olhos estavam semi abertos, estava deitada olhando pra porta com a esperança que alguém pudesse aparecer.

Não conseguia me lembrar de muita coisa, estava meio tonta ainda. Só me lembrava de uns olhos esverdeados que me devorava silenciosamente quando a noite caia. Me lembrava também de uma boca com um sabor inconparável, e de um voz grave cochichando no meu ouvido, algo inconfundível.

O meu único desejo agora era encontrar aqueles lindos olhos de novo, e que aqueles fortes braços me pegassem no colo e me levassem dali.

Até que uma moça com um lindo sorriso no rosto mas com um olhar apavorado, se fez presente naquele quarto. Ela penteou meus cabelos com seus dedos e me perguntou como eu me sentia. "Bem" - respondi.

Ela me apertou o braço e derrepente tudo começou a escurecer, tudo girava.

Eu só conseguia gritar o nome do rapaz de olhos verdes.

"Calma, tudo irá ficar bem agora!" - disse a moça de branco.

E fechei meus olhos.

Só queria ter visto o rapaz uma ultima vez antes de partir...

Estranho eu não parar de pensar em você, não conseguir esquecer o seu cheiro,

o sabor do teu beijo, o toque das tuas mãos...

Nós já passamos tanto tempo juntos, tantos anos de convivência

e meu coração ainda não havia pulado tanto ao te ver,

eu nunca havia me confortado tanto

pela simples presença dos teus braços em volta da minha cintura.

O teu sorriso nunca foi tão essencial para a minha felicidade,

eu nunca mergulhei tão fundo nos teus olhos,

sempre os evitei com medo de me me entregar a você,

com medo de me expor.

Eu nunca gostei tanto do som da tua voz,

ou do silêncio que surge quando estamos sozinhos...

E nunca achei que você pudesse ser tão perfeito cometendo tantos erros,

ou que um dia eu choraria ao te ver com outra.

Eu nunca pensei que poderia me apaixonar por você...

O amor, quando se revela,

Não se sabe revelar.

Sabe bem olhar pra ela,

Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente

Não sabe o que há de dizer.

Fala: parece que mente

Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,

Se pudesse ouvir o olhar,

E se um olhar lhe bastasse

Pr’a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;

Quem quer dizer quanto sente

Fica sem alma nem fala,

Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe

O que não lhe ouso contar,

Já não terei que falar-lhe

Porque lhe estou a falar…

Fernando Pessoa